Em 24 de abril é celebrado o Dia Nacional da Libras e nessa data, às 17h, a iniciativa BDB Cultural recebe três professores da língua para falar de avanços na inclusão de pessoas com deficiência auditiva

FOTO: Falk Soares Ramos Moreira – Acervo Pessoal

Ainda que não seja generalizado, infelizmente, nós estamos progressivamente nos acostumando a ver cada vez mais intérpretes de Libras em uma tela pequena que acompanha, no cantinho, os conteúdos audiovisuais. É assim aqui, na programação artística da BDB Cultural, sempre traduzida para a língua brasileira de sinais (Libras). Desta vez, porém, o jogo se inverte. Os intérpretes de Libras saem do cantinho da tela para ocupar o centro do debate na nossa programação ao lado de um professor, especialista na língua, e surdo.

No dia 24 de abril é celebrado o Dia Nacional das Libras, e nesta data, um sábado, a BDB Cultural transmitirá a mesa “As conquistas e desafios das pessoas surdas com a Libras”, às 17h. O debate, que falará das dificuldades para que a população com deficiência auditiva alcance uma cidadania plena, reunirá dois professores e intérpretes da Libras.

O primeiro é Falk Moreira, professor de Libras no Instituto Federal de Brasília (IFB). O acompanha Marcos Brito, que é coordenador da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos do Distrito Federal (Apada-DF), que forma intérpretes, e também coordenador do Centro de Apoio aos Surdos do DF (CAS-DF). Integra ainda a mesa Regiane Alves, pedagoga e tradutora de Libras, que é uma das responsáveis pela interpretação da programação artística da BDB Cultural, ao lado de Matheus Felipe. Matheus participa do evento traduzindo e interpretando a mesa para Libras ao lado da intérprete Regiane Novais. Ela fica responsável também pela oralização das falas do professor Falk;

“O preconceito ainda é, infelizmente, uma realidade. Aconteceu um episódio desse de preconceito muito recentemente no BBB [programa da TV Globo]. As pessoas não entendem que se trata de uma língua, e como tal deve ser respeitada. Não somos objeto de ironia ou brincadeiras, a língua de sinais representa para nós, a comunidade, nossa forma de expressão e comunicação com o mundo”, diz Falk.

“Ainda é muito recorrente enfrentar preconceito, ou mesmo pessoas que ironizem os sinais. Isso ocorre por desconhecimento. É o que eu chamo de barreira atitudinal: quem não quer entender que suas atitudes estão erradas para não precisar mudá-las. Mas a formação social cria muitos preconceitos, é marcada por desmerecer o que não se conhece. Então é preciso passar por uma mudança em questões em larga escala. Tem gente que acaba sendo capacitista sem saber, até pede desculpas, vê que é falta de conhecimento e esse é um começo”, afirma Marcos Brito.

A intérprete Regiane Alves complementa o pensamento do colega. “Tanto o surdo quanto o intérprete, a gente enfrenta preconceito. Muita gente se pergunta: o que aquela pessoa batendo mão está tentando dizer, a quem ela atende? Recentemente temos ganhado algum destaque, alguma aceitação social, mas é pouca. Ainda há um preconceito. Às vezes, a gente vira meme, até de forma preconceituosa, como se os sinais fossem pornográficos e não uma forma de se comunicar mais democrática”, sustenta ela.

As dificuldades

FOTO: Regiane Alves – Lucas Rezende/BDB Cultural

No bate-papo, os dois conversam sobre as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência auditiva e também como as pessoas ouvintes podem traçar estratégias para se aproximar dessa comunidade. Para ambos, a melhor forma de combater o preconceito e a ignorância social em relação a Libras é através do acesso à informação.

“Sabemos da visibilidade que a língua de sinais tem conquistado, contudo, as leis ainda não são respeitadas no Brasil. Há um aparato legislativo grande, contudo ainda sem eficácia. Um exemplo, nas televisões abertas não há o mínimo de sua programação em língua de sinais. Durante a pandemia, a comunidade surda ficou por muito tempo por fora do que se passava, tendo que recorrer a comunidades do Facebook com voluntários para o repasse das informações”, conta Falk.

“Quando a gente vê programas com acessibilidade para os surdos na TV, no Youtube, isso é sinal de que há pessoas que estão rompendo com essa barreira atitudinal e enxergando o que é preciso fazer, mas no Brasil, infelizmente, até mesmo em muitos espaços públicos não há alguém que saiba mediar e fornecer acessibilidade, para que os surdos possam ir para onde quiserem, exercer seus direitos, sua cidadania”, diz Marcos.

Regiane apresenta exemplos dessa dificuldade: “Eu acredito que se a gente exercer de forma plena a lei nº 10.436, isso já seria um ótimo caminho para os surdos se sentirem adaptados, incluídos, parte do todo social. O artigo 3 dessa lei, por exemplo, ele obriga que órgãos públicos prestem um atendimento completo em Libras. Mas essa crise hospitalar deixou ainda mais evidente que não tem quem intermedeie a comunicação, por exemplo, em hospitais. Se uma pessoa surda chega em uma instituição de saúde, com dores, ela é obrigada a escrever em um papel para tentar ser entendida. Não há expressão plena. Não há diagnóstico claro. E isso se repete: em delegacias, mesmo em tribunais de alguns estados. Há muito que se avançar”.

O poder da informação

FOTO: Marcos Brito – Acervo Pessoal

O ensino de Libras deve ser encarado como um ensino de segunda língua para pessoas não-surdas e, por isso, tem dificuldades como todos os outros idiomas. Para crianças é especialmente difícil, já que há poucos pedagogos bilíngues capacitados para esse ensino. Mesmo para a comunidade de adolescentes e de adultos, que já podem lidar com uma metodologia mais acadêmica, ainda são muito escassas as iniciativas. No IFB [Instituto Federal de Brasília], há cursos gratuitos. A Apada-DF também oferta cursos, com quase todos os professores com pós-graduação na área, mas são pagos, para ajudar manter a associação. Mas não faltam iniciativas tentando ajudar as pessoas a se informarem. Existem cursos no Youtube, como o do professor Uéslei Paterno, com boa didática. A língua de sinais é visual, é motora, então o ensino remoto não a favorece muito, mas pode ser um ótimo início para encontrar informações e para se abrir a este novo contexto”, completa Marcos Brito.

“Quanto mais o ensino de Libras for pulverizado, a tentativa de aprender for disseminada, mais perto a comunidade de pessoas com deficiência auditiva estará de ter uma comunicação e uma participação social efetiva. O curso do IFB é um excelente curso, o da APADA também, no Entorno de Brasília o CIL do Valparaíso de Goiás oferece o curso de Libras gratuito. É preciso buscar por essas iniciativas regionais, pois ainda estamos distantes de uma educação mais global. Mas isso é até as pessoas começarem a imergir no mundo do silêncio, do falar pelo corpo, e ver a potência que há aí”, conclui Regiane Alves.

Sobre a BDB Cultural

A BDB Cultural é uma iniciativa do governo federal, por meio da Secretaria Especial de Cultura, do Ministério do Turismo, em parceria com a Biblioteca Demonstrativa do Brasil Maria da Conceição Moreira Salles (BDB) e, por meio de um termo de colaboração, com a organização social Voar Arte para a Infância e Juventude. A agenda que o projeto executará na BDB segue até março de 2022.

“Com a BDB Cultural, vamos renovar a prática de ser uma referência a outras bibliotecas do país para que elas possam abrir suas asas para voos mais altos e dar vida aos seus espaços”, diz o coordenador-geral da BDB Cultural, Marcos Linhares.

Para saber mais sobre os próximos cursos e eventos oferecidos, acompanhe as novidades da BDB Cultural no Youtube (https://www.youtube.com/c/BDBCultural), no Facebook (https://www.facebook.com/bdbcultural), Instagram (https://www.instagram.com/bdbcultural/) e no site www.bdbcultural.com.br da iniciativa.

Sobre os convidados

Falk Soares Ramos Moreira é mestre em educação pela Universidade Católica de Brasília e especialista em docência no ensino superior pela Faculdade Albert Einstein. É graduado em pedagogia e em letras Libras, Falk é professor de Libras no Instituto Federal de Brasília (IFB) e doutorando em linguística na UnB. É surdo desde antes de completar 2 anos, como sequela de uma meningite.

Marcos Brito é coordenador-geral da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos do Distrito Federal (Apada-DF) e também do Centro de Apoio aos Surdos do DF (CAS-DF). Formado no ensino de matemática, ele se especializou na educação inclusiva. É tradutor e intérprete de Libras e também forma professores neste idioma.

Regiane Alves é intérprete e tradutora da Libras, além de pedagoga. É ela a responsável, ao lado do intérprete Matheus Felipe, pela interpretação do que é dito nos vídeos artísticos da BDB Cultural, que em sua programação de espetáculos, exposições e shows sempre apresenta comunicações nessa língua.

Serviço:

BDB Cultural – Abril de 2021

“As conquistas e desafios das pessoas surdas com a Libras”, mesa de debate no Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais com o professor surdo Falk Soares Ramos Moreira (IFB) — traduzido por Regiane Novais e por Matheus Felipe — e os intérpretes da língua Marcos Brito (Apada e CAS-DF) e Regiane Alves (BDB Cultural).

24/04 – Transmissão no Facebook e no YouTube da BDB Cultural, às 17h.

Outras informações:

Facebook.com/bdbcultural

Instagram – @bdbcultural